sábado, 12 de março de 2011

LOBO - ANIMAL DE PODER - PARTE II

Esta é a continuação do texto sobre o Lobo como animal de poder


Primeira Parte


LOBO - ANIMAL DE PODER - PARTE II





A energia do Lobo tem-se mantido ao longo destes 2 meses. Como referido na primeira parte deste texto, esta é uma energia extremamente poderosa e que exige muito de nós para que a consigamos compreender e integrar. Para o fazermos é essencial irmos para além do que conhecemos, daquilo que está exposto, que surge ao nível da pele, e mergulharmos bem fundo no que está escondido, nos segredos ocultos e iniciáticos, para percorrer todos os prismas da simbologia deste animal, aceitando tudo o que ele tem para nos dar, sermos lobo também e com ele percorrermos todos os caminhos trilhados.
O Lobo veio de novo até mim, agora sob outra forma,  urge então continuar o trabalho iniciado e caminhar com ele.

O Lobo foi e sempre será um animal lendário, um ser mitológico e um símbolo totémico. Quase sempre perseguido, poucas vezes compreendido e muito menos respeitado, a maior parte da humanidade considera-o como um símbolo de crueldade e de sangue, já que no passado remoto, quando o homem aprendeu a domesticar e dominar outros animais, o lobo era um dos seus piores inimigos, converteu-se numa peste, um bandido que roubava o gado a camponeses e nómadas. 

Criatura mortífera por excelência, lá onde o lobo habita ninguém sabe o que é a paz, pois “o grande matador” leva a morte como estandarte, e como digno filho de Marte vive em guerra constante.
Isto é o que ficou gravado no nosso subconsciente colectivo; mas o homem também aprendeu a admirar o Lobo pela sua perícia na caça, desenvolvendo um respeito muito especial pelos métodos e capacidades deste animal. 

Magnífico na sua estratégia, impecável em cada um de seus movimentos, mestre no ataque, o Lobo é a encarnação da força e da eficácia.

Simbolicamente, o Lobo é sinónimo de energia selvagem, e a loba de energia sexual. Embora habitualmente estes níveis de energia sejam conectados imediatamente com aspectos negativos...os seus aspectos positivos são por demais poderosos para serem ignorados. 
Ao deter a capacidade de ver na escuridão da noite ele torna-se igualmente o símbolo da luz, da energia solar, herói guerreiro, antepassado mítico. Esta é a simbologia que transparece na mitologia grega e nórdica, onde o Lobo é atribuído a Apolo e a Belen, deuses solares.

A China conhece também um Lobo celeste (estrela Sirius) que é o guardião do palácio celeste (Ursa Maior). Este carácter polar encontra-se na atribuição do Lobo ao ponto cardeal Norte. No entanto este papel de guardião engloba o aspecto mais feroz do animal, evoca uma ideia de força mal contida, que se consome com furor, mas sem discernimento. É o frenesim que desce sobre os guerreiros quando se entregam nas batalhas com a própria vida.

Na mitologia Nórdica, Odin senta-se no trono dos Deuses, nos seus ombros tem os corvos Huginn e Muninn, que durante o dia voam pela Terra e regressam á noite para o informar de tudo o que viram. Mas aos seus pés, deitam-se os dois lobos, Geri e Freki, a quem Odin oferece toda a carne que é colocada diante dele já que ele mesmo não precisa de alimentar-se. São o símbolo da gula, e a sua fome é insaciável. Acompanham Odin nas suas caçadas e lutas, devorando tudo o que encontram. 
Fenrir é o lobo montruoso, filho de Loki (filho de criação de Odin) com a giganta Angrboda, tem como irmãos Jormungand (a serpente de Midgard) e Hel (a Morte).
Acorrentado pelos deuses até o advento do Ragnarok (O Destino Final dos Deuses), Fenrir solta-se e causa grande devastação, antes de devorar o próprio Odin (O Supremo deus Guerreiro), sendo morto, posteriormente, pelo filho do grande deus, Vidar, que enfiará uma faca em seu coração.


Este simbolismo do devorador é o da goela, imagem iniciática e arquetipica, ligada ao fenómeno da alternância dia-noite, morte-vida. A mitologia escandinava apresenta o lobo como o devorador dos astros, o que pode estar relacionado com a imagem do lobo devorador da coderniz de que fala o Rig-veda, sendo a codorniz o símbolo da luz e a goela do lobo a noite, a caverna, os infernos, a fase de pralaya cósmico - a dissolução dos Universos - ; a li­bertação de dentro da garganta do lobo é a aurora, a luz iniciática que se segue à descida aos infernos, o kalpa.
Na mitologia egípcia, Anúbis, o grande psicopompo, é chamado de Impu, aquele que tem a forma de um cão selvagem ou chacal (equivalentes do lobo nas culturas que não o conhecem) e é venerado em Cinópolis como o deus dos infernos.

"Nós, os Chacais, sacerdotes de Anúbis, somos os guardiães de suas tumbas gloriosas ou sepulturas humildes. Somos os guardiães dos mortos. Somos os servos de Anúbis. Somos a Cinópolis."
- Capítulo dos Mortos, Livro de Maat
Esta goela monstruosa do lobo, de que Marie Bonaparte fala na sua auto-análise como estando associada aos temores de sua infância após a morte de sua mãe, não deixa de lembrar os contos de Perrault: Avó, como tu tens dentes grandes! Há, portanto, observa G. Durand, uma conver­gência bem nítida entre a mordida do canídeos  e o medo do tempo destruidor. Cronos aparece aqui com o rosto de Anú­bis, do monstro que devora o tempo huma­no ou que ataca até os astros que medem o tempo.
Estes símbolos têm um forte sentido iniciático e dão, tanto ao lobo como aos outros canídeos, um papel de psicopompo. Essa mesma função de psicopompo foi-lhe reconhecida na Europa, como atesta este canto fúnebre romeno:
 Aparecerá ainda O lobo diante de ti...Toma-o como irmão Porque o lobo conhece A ordem das florestas ...Ele te conduzirá Pela estrada plana Até um filho de Rei ...Até ao Paraíso
Há ainda a referir que o lobo infernal, e sobretudo a loba, encarnação do desejo sexual, constituem um obstáculo na estrada do peregrino muçulmano que se dirige a Meca, e mais ainda no caminho de Damasco, onde toma as dimensões besta do Apocalipse. Da mesma forma, para a religião católica, o lobo sempre foi um dos símbolos do diabo, da tentação, da gula sem limites.
O seu papel, quando nos surge na vida, será sempre iniciático, o da destruição e do renascimento, pois ele é o grande Professor e só fazendo o caminho da noite se poderá almejar a alvorada do Ser. Depois da sua passagem, se aceite e plenamente integrada, nada ficará igual.
(continua)


5 comentários:

Filomena Nunes disse...

Siala,

Maravilhoso.. tudo isto me encanta. Mitologia, simbolos, arquétipos.

Vou reler. Acredito que tenho ainda muito a retirar deste texto.

Um abraço :))

Cristina Paulo disse...

Olá Filomena :) obrigada! Esta é a segunda parte, e já estou a preparar a terceira. Este é um dos animais mais poderosos e ricos em simbologia, e estou a tentar passar para o exterior tudo o que ele me está a ensinar. Quando concluir este trabalho, vou escrever sobre o Corvo - o meu totem animal fixo - e a Serpente, que também já me chamou para a integrar e escrever sobre ela.
Acho que vais adorar a meditação que escrevi para o Marcelo publicar ;)
Tem um excelente Domingo!
Namasté

Filomena Nunes disse...

Siala, obrigada por tudo o que partilhas.

Ao ler estes textos, tudo mexe dentro de mim... visões, analogias..

Lamento, apenas, não conseguir dar-lhes forma, passar para o papel sob qualquer forma.. escrita, desenhos, pinturas. Apenas existem na minha tela interna.

Um alegre domingo também para ti.. :D

orvalho do ceu disse...

Olá, querida Siala
Muitas vezes somos lobos também... em todos os sentidos que vc expôs...
Bjs de paz e excelente tarde de Domingo.

TerraGaia disse...

Olá, Siala. Muito bom o seu blog! Me senti atraído por ele e pela sua força e magia. Bençãos de Gaia. Antonio Carlos Teixeira, Rio de Janeiro, Brasil